Gestão de resíduos é bom negócio? Artigo de O Globo mostra como soluções sustentáveis impulsionam o setor de cimento
A gestão de resíduos sólidos no Brasil vem ganhando destaque como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento sustentável — e o setor de cimento tem papel fundamental nesse processo.

Em artigo publicado no jornal O Globo no dia 14 de abril, Eduardo Porciuncula, engenheiro e gerente geral na Votorantim Cimentos, trouxe dados e reflexões importantes sobre os desafios e oportunidades na destinação correta de resíduos. Neste post, você confere os principais destaques do artigo e entende por que transformar lixo em valor é um bom negócio para a indústria e para o planeta.
A gestão de resíduos como desafio ambiental e econômico
Segundo Porciuncula, o Brasil ainda enfrenta dificuldades para implementar de forma eficiente a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), em vigor desde 2010. Embora as diretrizes estejam definidas, muitos municípios falham na execução, o que agrava problemas ambientais e de saúde pública.
📉 Em 2022, segundo a Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente):
- 33 milhões de toneladas de resíduos urbanos tiveram destinação inadequada
- 35,5% foram para aterros não controlados
- 5,7% foram queimados sem controle ambiental
Coprocessamento: uma solução eficiente para resíduos industriais
O artigo destaca o coprocessamento como uma solução estratégica para o reaproveitamento de resíduos não recicláveis. A técnica transforma materiais como plásticos, papéis contaminados e tecidos em Combustível Derivado de Resíduos (CDR) — usado principalmente em fornos da indústria cimenteira.
💡 Coprocessamento promove economia circular, reduz a necessidade de combustíveis fósseis e evita a criação de novos passivos ambientais.
CDR e o papel da indústria do cimento na transição energética
A indústria do cimento tem se mostrado uma grande aliada da transição energética, utilizando o CDR como alternativa sustentável ao coque de petróleo e outros combustíveis fósseis. Essa prática:
- Reduz a emissão de gases de efeito estufa
- Aumenta a eficiência energética dos fornos
- Valoriza resíduos que seriam descartados inadequadamente
Além disso, promove a descarbonização da produção de cimento, alinhando o setor às metas climáticas globais.
Educação ambiental e infraestrutura são essenciais
Porciuncula também ressalta que para avançar na gestão de resíduos no Brasil, é fundamental investir em:
- Educação ambiental, para engajar a população e os gestores públicos
- Infraestrutura tecnológica, que permita o reaproveitamento eficiente dos resíduos
- Políticas públicas efetivas, que saiam do papel e se convertam em ações reais
Participe do 9º Congresso Brasileiro do Cimento e ExpoCimento 2025.
Oportunidade para negócios e sustentabilidade
A mensagem final do artigo é clara: o lixo pode e deve ser visto como oportunidade. Com soluções inovadoras e sustentáveis, é possível:
- Gerar energia limpa
- Criar novos negócios
- Impulsionar a economia circular
- Proteger o meio ambiente e a saúde pública
A gestão de resíduos é, sim, um bom negócio — principalmente para setores como o de cimento, que têm a capacidade de liderar essa transformação.
Artigo na íntegra
EDUARDO PORCIUNCULA
A gestão de resíduos sólidos nos municípios brasileiros é um dos grandes desafios ambientais e urbanos da atualidade. Enquanto as cidades europeias vêm diminuindo o uso de aterros sanitários e adotando modelos sustentáveis de reaproveitamento de resíduos, o Brasil ainda caminha a passos lentos para dar valor ao seu lixo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei 12.305/2010) define diretrizes claras para a destinação correta dos resíduos, mas, passados mais de 13 anos, grande parte dos municípios ainda falha na implementação.
A sustentabilidade já não é mais diferencial competitivo, e sim necessidade. A gestão responsável de resíduos gera impacto ambiental positivo e impulsiona negócios e inovação. Investir em tecnologias para converter resíduos em energia limpa acelera a transição energética e combate as mudanças climáticas. A gestão sustentável de resíduos é essencial para o meio ambiente.
Um estudo da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema) estima que, em 2022, 33 milhões de toneladas de resíduos tiveram destinação inadequada, com impacto ambiental e econômico que pode chegar a R$ 130 bilhões até 2050. Iniciativas como o coprocessamento, que transforma rejeitos não recicláveis em energia limpa, surgem como solução crucial para mitigar esse cenário.
Cada brasileiro gera, em média, 1 quilo de lixo urbano por dia, incluindo plásticos, papéis engordurados, isopor, embalagens e até móveis. Segundo a Abrema, esse volume encheria 2 mil estádios do Maracanã. O Painel de Resíduos Sólidos do Ibama revela que o Brasil gera mais de 700 milhões de toneladas de resíduos industriais por ano. Segundo a Abrema, 41,5% dos resíduos urbanos têm destinação inadequada, com 35,5% em aterros não controlados e 5,7% queimados sem controle ambiental, ameaçando o meio ambiente e a saúde pública.
É nesse contexto que a gestão de resíduos entra como ferramenta estratégica para o desenvolvimento sustentável. Por meio do coprocessamento, resíduos não recicláveis, como plásticos ou papelão contaminados, podem virar Combustível Derivado de Resíduos (CDR), alternativa sustentável aos combustíveis fósseis para a indústria cimenteira. Essa solução reaproveita plásticos, embalagens flexíveis, EPIs, papéis e tecidos contaminados, promovendo a economia circular e a geração de energia limpa, sem gerar novos passivos ambientais.
A transição para uma gestão de resíduos mais eficiente exige não apenas infraestrutura e tecnologia, mas também forte investimento em educação ambiental. A conscientização sobre a destinação correta dos resíduos é essencial para que as regras e metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos saiam do papel.
A COP30, no Brasil, trará ainda mais relevância ao debate sobre energia limpa e gestão de resíduos, destacando o país na busca por soluções para reduzir emissões e preservar o meio ambiente. Convido gestores municipais e empresas a repensar suas estratégias de destinação de resíduos. Com soluções inovadoras e sustentáveis, é possível transformar desafios ambientais em oportunidades de desenvolvimento econômico e social. O lixo, muitas vezes tratado como problema, pode ser a chave para um futuro mais sustentável e eficiente para todos.
Eduardo Porciuncula é engenheiro e gerente geral na Votorantim Cimentos, unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos.
Fonte: O Globo