Nos dias atuais, o uso de ar-condicionado tem se tornado cada vez mais comum, especialmente em ambientes urbanos onde o calor é intensificado pelas construções. No entanto, o consumo crescente de energia com sistemas de refrigeração está acelerando as mudanças climáticas. Para resolver esse dilema, uma inovação promissora no campo da construção civil surge: o cimento super-resfriante, que promete reduzir a necessidade de ar-condicionado e diminuir os custos energéticos, tudo isso sem comprometer o conforto térmico dos edifícios.
O Impacto do Cimento Tradicional no Meio Ambiente
O cimento convencional, amplamente utilizado na construção de edifícios, possui uma característica que contribui diretamente para o aumento da temperatura interna dos ambientes. Isso ocorre porque o cimento comum absorve calor da radiação solar e o transfere para os interiores das construções. Em um ciclo constante, esse acúmulo de calor força a ativação de sistemas de ar-condicionado, que consomem grandes quantidades de energia, exacerbando o aquecimento global.
Com o aumento da temperatura global, a demanda por ar-condicionado deve triplicar até 2050, resultando em um ciclo vicioso de consumo energético elevado e a emissão de gases de efeito estufa.
A Inovação do Cimento Super-Resfriante
Pesquisadores da Universidade do Sudeste da China desenvolveram uma solução inovadora para esse problema: o cimento super-resfriante. Ao modificar a química do cimento tradicional, foi possível criar um material capaz de refletir uma quantidade significativamente maior de radiação solar, mantendo os ambientes mais frescos de forma natural, sem recorrer ao ar-condicionado ou a sistemas de refrigeração mecânica.
Nos testes realizados, o cimento super-resfriante conseguiu reduzir a temperatura interna dos ambientes em até 5,5°C. Esse efeito de resfriamento pode eliminar a necessidade de ar-condicionado em regiões com climas quentes e secos, e, em condições mais moderadas, ainda reduz significativamente o uso de energia elétrica.
Como Funciona o Cimento Super-Resfriante
O segredo por trás dessa inovação está na modificação do cimento convencional. Os cientistas ajustaram a mistura de forma a gerar uma maior quantidade de etringita, um mineral presente em pequenas doses no cimento comum. Essa modificação aumenta a reflexão da luz solar, permitindo que os raios solares sejam dispersos em várias direções, ao invés de serem absorvidos e convertidos em calor.
Além disso, a adição de minerais ricos em alumina e a alteração da microestrutura do cimento permitem que ele reflita o calor para a atmosfera por meio da “janela atmosférica”, uma faixa de radiação que pode escapar diretamente para o espaço, sem ser absorvida pela Terra.
Vantagens Ambientais e Econômicas
A produção do cimento super-resfriante é realizada a temperaturas mais baixas do que o cimento Portland convencional, o que resulta em uma redução significativa nas emissões de carbono durante o processo de fabricação. Estima-se que esse cimento possa reduzir em até 25% a pegada de carbono na produção de cimento.
A longo prazo, o cimento super-resfriante pode até se tornar carbono negativo, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Ao economizar energia de refrigeração ao longo de sua vida útil, o material contribui para a redução do impacto ambiental, tornando-se uma solução sustentável tanto para a construção quanto para o resfriamento de edifícios.
Além disso, o cimento é mais durável do que alternativas temporárias, como tintas reflexivas ou revestimentos iridescentes, que precisam ser reaplicados com o tempo. O cimento super-resfriante, por ser incorporado diretamente na estrutura, oferece uma solução permanente e de baixo custo.
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O Futuro do Cimento Super-Resfriante
Os testes iniciais foram conduzidos com a colaboração da empresa chinesa Jiangxi Yinshan White Cement. O próximo passo será a produção de painéis maiores para uma comercialização em larga escala, com o objetivo de implementar essa solução em projetos de construção em diversas regiões do mundo.
A utilização do cimento super-resfriante representa uma inovação significativa para a construção civil e a arquitetura sustentável. Ao proporcionar um resfriamento passivo, sem o consumo de energia, o cimento se posiciona como uma alternativa eficiente e econômica aos sistemas tradicionais de ar-condicionado.
Esse tipo de resfriamento não só reduz o consumo de energia elétrica, mas também contribui para a sustentabilidade global, ajudando a combater os efeitos do aquecimento global. Em um cenário onde a eficiência energética e a sustentabilidade são cada vez mais essenciais, o cimento super-resfriante oferece uma solução promissora para a construção do futuro.
Fonte:
PETERS, Adele. “Este cimento especial mantém o ambiente fresco sem o uso de ar-condicionado”. Fast Company Brasil, 27 ago. 2025. Disponível em: https://fastcompanybrasil.com/impacto/cimento-super-resfriante-mantem-o-ambiente-fresco-sem-o-uso-de-ar-condicionado.