A indústria da construção civil é uma das principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, com a produção de cimento sendo um dos maiores emissores de CO₂ globalmente. Em busca de alternativas mais sustentáveis, um estudo recente publicado na Scientific Reports (2025) apresenta uma inovadora solução ambiental: a utilização de cinzas calcinadas de folhas de óleo de palma e pinheiro como materiais suplementares no cimento, promovendo uma construção mais verde e com menor impacto ambiental.
Impacto Ambiental e Sustentabilidade
A pesquisa destaca que a substituição parcial do cimento convencional por cinzas de resíduos agrícolas, como as de óleo de palma (POLA) e pinheiro (PLA), pode não apenas reduzir as emissões de CO₂, mas também melhorar o desempenho mecânico e a durabilidade dos compósitos cimentícios. Esses resíduos são abundantemente disponíveis, especialmente em países produtores de óleo de palma, como a Malásia, que é responsável por quase 24% da produção mundial de óleo de palma.
Desempenho Mecânico e Microestrutural
Os testes realizados com diferentes proporções de substituição de cimento por POLA e PLA calcinadas (5% a 30%) demonstraram que, em substituições baixas (até 5%), o concreto manteve suas propriedades mecânicas e apresentou microestruturas mais densas e homogêneas, enriquecidas com gel de silicato de cálcio hidratado (C-S-H). No entanto, substituições mais altas (acima de 20%) resultaram em um declínio significativo na resistência à compressão do material, especialmente nas misturas com PLA calcinado.
Análises Mineralógicas e Químicas
Utilizando difração de raios X (XRD) e espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), os pesquisadores identificaram que as cinzas calcinadas promovem reações pozolânicas, consumindo hidróxido de cálcio (CH) e formando novos produtos de hidratação que contribuem para a resistência do concreto. A análise também revelou que a presença de sílica amorfa nas cinzas de POLA resultou em melhor desempenho microestrutural, enquanto a PLA apresentou maior quantidade de fase inerte, impactando negativamente o desempenho do concreto.
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Economia Circular e Redução de Carbono
A utilização de resíduos agrícolas, como as folhas de óleo de palma e pinheiro, não só contribui para a redução da pegada de carbono do cimento, mas também promove práticas de economia circular, ajudando a reaproveitar resíduos e reduzir o uso de recursos naturais. Isso está alinhado com as metas globais de sustentabilidade e os esforços para mitigar as mudanças climáticas.
Possibilidades Futuras
O estudo aponta que, com a optimização dos processos de calcinação e o controle adequado da proporção das cinzas, é possível melhorar ainda mais a atividade pozolânica das cinzas e a qualidade do cimento sustentável. Também sugere a combinação de POLA e PLA com outros materiais pozolânicos, como cinzas volantes ou metacaulim, para aumentar a eficiência e o desempenho dos compósitos cimentícios.
Fonte – Os detalhes completos do estudo podem ser acessados no artigo original: Scientific Reports – “Performance of Palm Oil and Pine Leaf Ash Blended Cement Composites”.